Hoje, caminhando na rua, indo para casa, me lembrei de um fato que ma ocorreu ao final do ano que se findou, quando estava passando por um período (in)tenso, daqueles em que se perde o chão, em que se acha a pior das criaturas, em que tudo o que se acreditava e lutava vira um amontoado de nada..... Me lembro que neste dia tive uma péssima noite de sono, fui trabalhar e nada rendeu e ao fim do expediente sabia que precisava arrumar com urgência algumas coisas e que a primeira coisa a fazer era ir atrás de um lugar para morar, sabia que não ia ser fácil e nem rápido, mas que tinha que começar urgentemente, então, disse para minha colegas de trabalho que não ia ir para casa naquele momento, me despedi delas, peguei um ônibus e fui.
Ônibus lotado, doía meus ombros, com uma das mãos segurei o apoio superior de modo que minha cabeça descansava no braço erguido, coloquei meus óculos escuros, fechei meus olhos, não pensava em nada, não queria pensar e comecei a chorar, silenciosamente chorava muito, de vez em quando olhava para as pessoas e janelas, mas só olhava, não enxergava nada. Naquele momento eu era um nada.
Foi quando estava próxima do ponto de descer e por isso mais atenta, percebi uma criança de uns três ou quatro anos, no colo de sua mãe, me olhando e apontando para mim, pensei “devo estar assustando-a, estou parecendo um monstro, inchada de tanto chorar”. Fechei novamente os olhos, tentei me recompor, respirei fundo, arrumei meus cabelos, olhei novamente para aquela garotinha, miudinha, cabelinhos louros, todo enfeitado e que continuava a me olhar....Sua mãe olhou para mim e me disse “oi”, respondi educadamente e ela completou “ minha filha esta encantada com você, ela te acha linda, não para de falar isso”, olhei para ela e um pouco envergonhada me mostrou um sorriso encantador, naquele momento, ganhei novamente um chão, retribui o sorriso, assoprei-lhe um beijo, me despedi e desci do ônibus.
Dei alguns passos e vi que eu continuava sorrindo, me emocionei ao perceber que aquela garotinha, com seu simples gesto, estava na verdade me dando um sinal, mesmo sem o saber, mostrou-me que eu estava viva e que eu não era a pior das criaturas. Se eu contar, algumas pessoas dirão que na verdade foi Deus quem conversou comigo através daquela criança, dizendo que eu não estava só, Ele estava me acompanhando.
A partir daí, meus dias mudaram, ganhei forças, me transformei, saí do papel de ‘coitada’, para alguém que luta e que busca a felicidade acima de tudo.
Tornei-me PRIMAVERA.
Ah... pequena criança, talvez nunca mais a veja, mas rezo a Deus para que tenhas uma vida plena de felicidade e que nunca tire esse sorriso de seu rosto, para que possas ajudar outras pessoas como me ajudou.........Obrigada.
Vontade de fazer bem
PAULO COELHO
"Vontade. Esta é uma palavra que a gente deveria colocar sob suspeita. Quais são as coisas que a gente não faz porque realmente não tem vontade e quais aquelas que não fazemos porque são arriscadas? Eis um exemplo de risco que confundimos com “falta de vontade”: falar com desconhecidos. Nós raramente conversamos com desconhecidos. E sempre achamos que “foi melhor assim”. Terminamos sem ajudar e sem sermos ajudados pela vida. Nossa distância nos faz parecer muito seguros, mas na prática estamos longe dos milagres que os anjos colocaram em nosso caminho".